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SINOPSE
O filme é baseado na história real de Erin Gruwell (interpretada por Hilary
Swank), uma professora novata interessada em lecionar Língua Inglesa e
Literatura para uma turma de adolescentes resistentes ao ensino convencional. Alguns
estão ali cumprindo pena judicial, e todos são reféns das gangues avessas ao
convívio pacífico com os diferentes.
Formada em Direito, Erin se torna professora,
desagradando seu pai e marido. No início, ela demonstra ingenuidade, timidez,
curiosidade e determinação; sua vocação para o magistério vai se construindo
conforme os desafios que ela encontra entre os alunos e ao lidar com a
burocracia e o conservadorismo dos funcionários do sistema pedagógico da
escola. Os judeus nova-iorquinos diriam que o diferencial de Erin é ela ter
“chutzpah”: ousadia, garra, determinação, toma iniciativa, ir-à-luta. Os
diversos obstáculos próprios de qualquer sistema escolar faz com que ela se
sinta desafiada a fazer algo mais.
Como em outros filmes sobre turmas problemáticas,
a professora Erin toma sua tarefa como um grande desafio: educar e civilizar
aquela turma estigmatizada como “os sem-futuro” pelos demais professores.
Percebe que seu trabalho deve ir para além da sala de aula, por exemplo,
visitando o Museu do Holocausto, possibilitando aos jovens saber os efeitos
traumáticos da ideologia da “grande gangue” nazista, que provocou a 2ª. Guerra
Mundial e o holocausto, e também reconhecer as semelhanças com suas “pequenas
gangues” da escola.
Inicialmente, a professora chega à sala de aula com
um planejamento pronto e previamente definido, e ao se deparar com a realidade
dos seus alunos precisou criar estratégias que partissem das próprias vivências
destes.
ANÁLISE PESSOAL
Há muitos filmes americanos sobre escola, mas não
como "Escritores da Liberdade". (Freedom Writers, EUA, 2007). Porque
é o único filme dessa categoria que incentiva os alunos a lerem literatura,
ponto de partida para testar a vocação de cada um para escrever desde um diário
sobre o cotidiano trágico de suas vidas até uma poesia hip hop ou um livro de
ficção. O valor desse filme também está na ousadia da linguagem cinematográfica
mostrando os problemas psico-sócio-culturais que atingem a escola
contemporânea; também porque ele dá visibilidade à diversidade dos grupos, com
seu rígido código de honra, cada um no seu território, o narcisismo da recusa e
da intolerância para com “os outros”, o boicote às aulas, a prontidão para
aumentar os índices de violência entre os jovens e transformar a escola no seu
avesso, isto é, uma comunidade bem próxima da barbárie, o que de fato vai
acontecer em 1992, em Los Angeles, EUA.
O método da jovem professora consistiu em
entregar para cada aluno um caderno para que escrevessem, diariamente, sobre
aspectos de suas próprias vidas, desde conflitos internos até problemas
familiares e sociais. Também, instigou-os a ler livros como "O Diário de
Anne Frank" com o propósito de despertar alguma identificação e empatia,
ainda que os personagens vivam em épocas diferentes; a partir de eventuais
encontros imaginários cada aluno poderia desenvolver uma atitude especial de
tolerância para com o “outro”. Na vida real, os diários foram reunidos em um
livro publicado nos Estados Unidos, em 1999, e terminaram inspirando o diretor
Richard LaGravenese para fazer esse filme.
ANÁLISE
PEDAGÓGICA
Nesse
filme podemos perceber uma prática pedagógica diferente realizada pela
professora Erin Gruwell, onde ela acaba conseguindo combater a intolerância
étnica, social, racial, intelectual entre os alunos a partir do ler, pensar e
escrever.
Seu
estilo não é teatral, tal como os professores protagonistas dos filmes “O
triunfo”, “Sociedade dos poetas mortos”, “Escola da vida”. Também não é
autoritária como “Meu mestre, minha vida”, e nem experimentalista como é o
professor Ross, do filme “A onda”. Seu estilo pedagógico está para o ensaísmo
apaixonado, romântico, humanista, mas sem perder de vista a racionalidade do
propósito educativo. Primeiro, ela tenta “dar aula” segundo manda o modelo
tradicional, que não funciona com alunos indiferentes ao propósito da escola
eminentemente ensinante. Uma aluna questiona pra que serve aprender tal
conteúdo abstrato considerado inútil para melhorar sua vida real; outro dirá
que o fato de ela ser professora “branca” não é suficiente para ele
respeitá-la. Cabe à professora ter argumentos consistentes que respondam essas
questões imprescindíveis na escola contemporânea. No segundo momento, Erin faz
o reconhecimento dos grupos de iguais (narcísicos), e, obviamente sente empatia
com os excluídos. Terceiro, devolve aos alunos esse reconhecimento com um
pensamento crítico, fazendo-os reconhecer, sentir e pensar sobre a realidade
criada por eles próprios. Quarto, não os aceita na condição de vítimas
reativas, e cobra-lhes responsabilidade por suas escolhas e seus atos de
exclusão para com os diferentes. Ou seja, sua ação pedagógica é inovadora
porque desperta a motivação dos alunos para expressar seus sentimentos, ler,
pensar, escrever, e mudar a partir do reconhecimento como sujeito de sua história.
Na concepção de Hannah Arendt, duas causas podem
ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade da
escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e
professores. Ambas fazem com que as crianças e adolescentes fiquem sujeitos à
tirania de uma maioria qualquer (grupo social, tribos, gangs) e de um líder
carismático ou populista. Portanto, o ato educativo de Erin é ao mesmo tempo
político e ético, porque visa transformar alunos “não-pensantes”,
“incivilizados”, “não-humanizados”, em seres humanos que podem exercitar o
pensamento crítico sobre a realidade e seus atos; suas propostas de dinâmicas
com os grupos leva-os a rememorar situações e rever suas posições na história
de cada um, podendo até criar em cada aluno uma nova ética que melhor orienta
seus gestos e palavras para evitar magoar o seu próximo. As dinâmicas e debates
em sala de aula desmarcaram o recorrente discurso vitimista desses grupos, que
tendem ao comodismo da sua desgraça, e ao mesmo tempo projeta no outro a
responsabilidade pela sua própria irresponsabilidade ou fracasso como
sujeito-cidadão no meio social. É preciso que cada qual se responsabilize e se
comprometa “fazer sua parte”, ou como diz a velhinha que abrigou Anne Frank:
“fazer a coisa certa” ou ética, como uma pessoa comum, anônima, e representante
do que é ser civilizado.
Uma educação que não exercita o ato de pensar,
com todos os seus riscos, além da própria ausência de pensamento, tem como
efeito o não comprometimento, o não tomar decisões, ou não se responsabilizar por
elas. “A tarefa fundamental do pensar é descongelar as definições que vão sendo
produzidas, inclusive pelo conhecimento e pela compreensão e que vão sendo
cristalizados na história. A tarefa do pensar é abrir o que os conceitos
sintetizam, é permitir que aquilo que ficou preso nos limites da sua própria
definição seja liberado. É livrar o sentido e o significado dos acontecimentos
e das coisas da camisa-de-força dos conceitos” (CRITELLI, 2006, p. 80).
É preciso, portanto, criar dispositivos – como
ler, escrever, falar elaborado – que “operem como obstáculo para que aqueles
que não se decidiram a ser maus não cometam maldades” (CORREIA, A. 2006, p.
50). Conforme diz Arendt: “os maiores malfeitores são aqueles que não se
lembram porque nunca pensaram na questão, e, sem lembrança, nada consegue
detê-los. O maior mal não é radical, mas possui raízes, e, por não ter raízes,
não tem limitações, pode chegar a extremos impensáveis e dominar o mundo todo”,
como foi a trágica experiência dos regimes totalitários, o nazi-fascismo e o
stalinismo.
Para alguns, é insuficiente o(a) professor(a)
apenas “fazer sua parte”, visto existir um mundo para além dos limites de sua
sala de aula. Mas, a lição da professora do filme está em “fazer-bem-sua-parte”
exatamente no ponto nevrálgico e temporal que é a educação: ser um ato
civilizatório entre o passado e o futuro. Diz ela: “A tarefa da educação é
justamente a de apresentar o mundo às gerações do presente, tentando fazê-las
conscientes de que comparecem a um mundo que é o lar comum de múltiplas
gerações humanas. Ao conscientizá-los do mundo a que vieram, estas deverão
compreender a importância de sua relação e ligação com as outras gerações,
passadas e vindouras. Tal relação se dará, primeiro, no sentido de preservar o
tesouro das gerações passadas, isto é, no sentido de a geração do presente
tomar o cuidado de trazer a esse mundo sua novidade sem que isso implique a
alteração, até o irreconhecimento, do próprio mundo, da construção coletiva do
passado” (apud FRANCISCO, 2006, p.35).
Tal posicionamento pedagógico-político-ético da
função docente deve ser marcado pela sua autoridade, sensibilidade, e senso de
inovação, que ao ser testado na realidade cotidiana da escola costuma pagar um
preço em forma de resistências, incompreensões e críticas maldosas. Assim
posicionado nesse tripé é que o docente pode tanto se defender dos ataques de
fora como resistir às frustrações advindas do seu próprio trabalho. Também, a
partir desse estilo ela pode melhor se preparar para evitar cair no criticismo
raso dirigido ao sistema, como forma única de luta; ou seja, a experiência tem
demonstrado que muitos na escola e na universidade usam de verbosidade sem
ação, não se comprometem de corpo e alma testando táticas inovadas de lutas (no
sentido da esquerda política) visando melhorar a qualidade do ensino; outros
ficam esperando que o governo ou dono de escola tomem iniciativas, ou autorizem
(o)a professor(a) fazer algo inovador no seu trabalho docente no sentido de
reverter o baixo rendimento dos alunos, por exemplo.
Que cada professor(a) faça diferença no seu ato
de ensinar. O ensino regular visa levar os alunos aprenderem os conteúdos
programados pelos currículos. Contudo, não se pode ensinar sem incluir também
uma mudança educativa. Um ensino sem educação para o pensar é vazio de sentido
prático e existencial. Uma educação sem aprendizagem dos conteúdos também é
vazia e tende a degenerar em retórica moral e emocional. Ensinar e educar
implicam em responsabilidades: pedagógica, política e moral, dentro e fora da
escola; implica, ainda, na responsabilidade do coletivo do professorado de
civilizar a nova geração que irá povoar o mundo.
No dizer de Arendt (1989) “A educação é, também,
onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para expulsá-las a seus
próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de
empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso
com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum”.
Nós, professores e professoras, devemos assistir
ao filme “Escritores da Liberdade” por várias razões: para que possamos inovar
o ato de ensinar adequado à realidade cultural dos alunos; para que, além de
ensinar, também possamos adotar uma atitude de pesquisa-ação com os grupos que
se formam em sala de aula e na escola, quase sempre atraídos pela semelhança
formando grupos narcísicos, cujo sintoma visível é a intolerância para com os
demais; para que aprendamos a acolher e contextualizar as situações de vida dos
alunos com as de outras vidas relatadas pela história da humanidade – que,
através de um diário ou redação qualquer eles aprendam a significar suas
histórias com outras histórias; para que os professores do nosso Brasil se
empenhem mais-e-mais em ler literatura, porque só podemos cobrar dos alunos
esse hábito se nós também nos habituamos a ler, isto é, se ler e compreender já
fazem parte de nossa virtude pessoal. (aquele que lê e compreende tem maior
probabilidade de escrever suas próprias narrativas); para que os professores
façam autocrítica sobre o quantum de paixão (ou libido) tem pelo trabalho com
os alunos e não deve necessariamente implicar a sua desatenção (ou
desapaixonamento) para com os seus próximos: marido, esposa, filhos, etc.
PROPOSTA
DE ATIVIDADE PRÁTICA
Proponho uma atividade baseada no método da jovem
professora do filme que consistiu em entregar para cada aluno um caderno para
que escrevessem, diariamente, sobre aspectos de suas próprias vidas, desde
conflitos internos até problemas familiares e sociais, instigando-os também a
ler mais livros que trouxessem conhecimentos diversos sobre sociedade, com o
objetivo de desenvolver atitudes de tolerância com os colegas e com o próximo
no dia a dia.
O que foi trabalhado?
- Perceber as diferenças entre a pronúncia e a grafia convencional das palavras;
- Escrever corretamente palavras usuais com s com som de z; x com som de z; x com som de z; je, ji ou ge, gi; ce, ci ou se, si; ç ou ss; h inicial;
- Ler e escrever relatos breves de experiências de vida;
- Ler e escrever biografias, observando a seqüência cronológica dos e textos de eventos;
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